- 28 de maio de 2025
Foto: Reprodução
Toda criança sonha em ser princesa. Mas, para muitas meninas negras, crescer assistindo a contos de fadas pode ser também um convite silencioso a acreditar que reinos encantados não são feitos para elas. Que não há sapatinhos de cristal para pés da sua cor.
É por isso que espetáculos como “Cinderela Negra – Um sonho que vai começar” emocionam tanto. A peça, que esteve em cartaz até junho no Rio, não trouxe só purpurina e música — trouxe pertencimento. Escrita e estrelada por Rô Sant’Anna, a história levou a plateia até uma vila em Angola, onde Cinderela trabalha duro, mas sonha grande. E onde a fada madrinha virou Orixá Obá, poderosa e cheia de axé. Tudo isso contado ao som de samba, afrobeat, forró e kuduro, ritmos que aquecem o peito e balançam o corpo.
Para quem assistiu, a sensação é quase mágica: finalmente, uma princesa negra no palco, com cabelo crespo, pele escura, força e delicadeza ao mesmo tempo. Para muitas meninas na plateia, foi a primeira vez em que se viram representadas assim. Para muitos meninos, também. Porque representatividade não é só ver alguém igual a você — é saber que você pode estar em qualquer lugar, até mesmo num conto de fadas.
E isso importa muito. Uma criança que cresce sem se ver nas histórias pode carregar por anos a sensação de não pertencer. Já aquela que se reconhece nas princesas, nos heróis, nos palcos, entende que seus sonhos também são possíveis. Que seu tom de pele, seus traços, sua cultura são belos e dignos de aplauso.
Cinderela Negra foi mais do que teatro infantil. Foi cura, foi orgulho, foi esperança. E deixou um recado que ecoa muito além do palco: nossas crianças negras merecem finais felizes — e reinos onde sejam protagonistas da própria história.
Fonte: Revista Raça