- 12 de agosto de 2025
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Por Fabiano Machado
Em empresas que buscam diversidade e inclusão, encarar conversas difíceis sobre raça é indispensável. As conversas sobre racismo podem gerar desconforto, mas são necessárias para construir um ambiente de trabalho mais equitativo e inclusivo. Somente através do diálogo sincero é possível criar espaços seguros onde todas as vozes são ouvidas e respeitadas. Quando colaboradores se sentem à vontade para relatar experiências e expor preocupações sem medo de retaliação, a confiança aumenta e a equipe se fortalece. Abrir canais de diálogo – por mais delicados que sejam os temas – é um passo fundamental para desmontar preconceitos e promover segurança psicológica no ambiente corporativo.
Infelizmente, ainda é comum a negação do racismo nas organizações, o que funciona como uma barreira silenciosa que perpetua a exclusão. Muitas empresas preferem “não falar de raça” acreditando que o silêncio evita conflitos – quando, na verdade, ele protege o status quo excludente. Essa negação é perigosa: se a empresa finge que o racismo não existe ou “não acontece aqui”, acaba sendo cúmplice do problema, permitindo que o sistema de desigualdades siga inalterado. Reconhecer abertamente que o racismo estrutural influencia as relações de trabalho é o primeiro passo para quebrar essa blindagem.
Nesse contexto, cabe às altas lideranças – gerentes, diretores e executivos – assumirem a responsabilidade de criar instâncias de diálogo que pavimentem uma nova cultura organizacional. É fundamental que líderes saiam da zona de conforto e promovam conversas francas sobre diversidade, mesmo que incômodas. Ouvir ativamente seus colaboradores faz parte da liderança contemporânea. Criar espaços seguros para que funcionários negros e de outros grupos sub-representados relatem suas experiências não deve ser exceção, mas prática contínua. Isso pode se materializar em rodas de conversa, fóruns internos, programas de escuta ou encontros temáticos que tratem do impacto da raça nas experiências de trabalho. Quando a liderança dá o exemplo – mostrando humildade para aprender, reconhecendo os próprios limites e admitindo que também está em processo de evolução – ela convida toda a organização a embarcar na construção de uma nova cultura.
Para que esses diálogos sensíveis ocorram de forma segura e efetiva, é recomendável seguir diretrizes que estabeleçam confiança, respeito e escuta ativa. A seguir, apresentamos nove passos que podem servir de base para conduzir conversas difíceis com coragem, empatia e foco em transformação:
Essas diretrizes oferecem um mapa possível para diálogos mais seguros e honestos. Elas não garantem conforto, mas criam o contorno necessário para que o desconforto produza crescimento. Não se trata de conversar por conversar, mas de construir sentido, reparar silêncios, nomear injustiças e mobilizar ações.
Por fim, é importante lembrar: muitas vezes, o como se dialoga é mais determinante do que o conteúdo do diálogo em si. Preparar o terreno, alinhar expectativas, oferecer acolhimento e abrir espaço para escuta ativa são ingredientes que fazem toda a diferença. Esse é um caminho indispensável para formar empresas e lideranças livres da praga do racismo. Para superá-lo, é absolutamente necessário, entre outros pontos, abrir os ouvidos – e também o coração. É escutando com empatia e falando com coragem que construímos, juntos, um mundo corporativo mais justo e verdadeiramente humano.
Fonte: Revista Raça