21 de novembro de 2024, 05:47:48

Enem 2024 destaca Carolina Maria de Jesus e desafios para a valorização da herança africana no Brasil


Enem 2024 destaca Carolina Maria de Jesus e desafios para a valorização da herança africana no Brasil

Foto: Reprodução / Imagem de Carolina Maria de Jesus, escritora negra brasileira. Suas frases foram utilizadas nos cadernos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024.

Frases de Carolina Maria de Jesus foram destaque na abertura das provas; tema da redação reforçou a importância do ensino sobre cultura afro-brasileira

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2024 trouxe como tema central a valorização da herança africana no Brasil e homenageou a escritora Carolina Maria de Jesus. Frases da autora, conhecida por sua obra “Quarto de Despejo: diário de uma favelada”, abriram os cadernos de prova nas quatro cores – azul, verde, amarelo e branco –, cada um com uma citação diferente de seus textos. 

Em cada um dos cadernos do Enem, uma frase de Carolina Maria de Jesus foi escolhida para a folha inicial, e os candidatos foram orientados a reescrevê-las no cartão-resposta. A frase do caderno azul, por exemplo, era “O arco-íris foge de mim”. Já no caderno verde, o trecho trazia um tom reflexivo: “Percebi que eu sou poetisa fiquei triste”. A frase do caderno amarelo evocava um sentimento de nostalgia: “Lá no interior eu era mais feliz, tinha paz”, enquanto o caderno branco continha a frase “Quem inventou a fome são os que comem”, retirada do livro Quarto de Despejo.

As frases ilustram a obra de Carolina, que abordou em suas escritas temas de miséria, exclusão social e o cotidiano de mães solo em situação de vulnerabilidade. Suas reflexões sobre fome e desigualdade social são um reflexo de sua vida como mãe, negra e moradora da periferia paulistana, onde escreveu a partir de cadernos coletados durante seu trabalho como catadora de recicláveis.

Em 1977, Carolina faleceu em situação de pobreza, depois de passar anos sem apoio no Brasil, ainda que sua obra tenha ganhado reconhecimento internacional e fosse usada em escolas nos Estados Unidos. Sua redescoberta, nos anos 1990, pelo pesquisador brasileiro Carlos Sebe Bom Meihy e pelo norte-americano Robert Levine, rendeu o livro “Cinderela Negra: A saga de Carolina Maria de Jesus” e trouxe nova visibilidade para a sua contribuição à literatura brasileira e mundial.

Prova destaca herança africana no Brasil

Além das homenagens literárias, o tema da redação do Enem 2024 também reforçou a importância da discussão sobre a história e a cultura afro-brasileira, com o tema “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”. A coletânea de apoio apresentou seis textos, incluindo um trecho de um samba-enredo da escola de samba Mangueira e a imagem de crianças admirando um grafite de Zumbi dos Palmares. Outro material incluía um provérbio africano e a definição de “herança” no dicionário Houaiss.

Embora a proposta do tema demonstre um avanço, a realidade nas escolas brasileiras ainda apresenta lacunas no ensino de história afro-brasileira e africana, conforme aponta uma pesquisa do Instituto Alana e Geledés Instituto da Mulher Negra, realizado em 2022 com gestores de 1.187 secretarias municipais de educação (21% das redes municipais).


O estudo revelou que sete em cada dez secretarias municipais pouco ou nada fizeram para implementar o ensino da história e cultura afro-brasileira, conforme estabelecido pela Lei 10.639/03. A situação é mais crítica na região Sudeste, onde cerca de 70% das escolas municipais ainda não têm aulas voltadas para esse conteúdo.

Fonte: Alma Preta


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