- 26 de novembro de 2024
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A série do Novembro Negro do Portal M! entrevistou a vereadora Ireuda Silva (Republicanos), que tem se destacado por sua atuação em defesa dos direitos das mulheres negras e pela promoção da justiça social. Na Câmara Municipal de Salvador (CMS), Ireuda é reconhecida por iniciativas que visam a inclusão e proteção das mulheres negras. Ao M!, a vereadora enfatizou que as mulheres negras enfrentam uma ‘dupla jornada’ na luta contra o racismo e a misoginia.
“Têm que lidar com discriminações que atingem tanto a cor de sua pele quanto o fato de serem mulheres. O feminismo negro se depara com desafios únicos, como o combate às representações estereotipadas, a invisibilidade social e a dificuldade de acesso a políticas públicas específicas. O principal desafio é construir uma agenda que avance em políticas de inclusão e reparação histórica para essas mulheres”.
Graduada em gestão pública, a vereadora está no segundo mandato e foi reeleita para mais quatro anos com 9.719 votos no pleito deste ano. Ela iniciou sua carreira no mundo empresarial, atuando como coordenadora da IURD TV durante 18 anos e criou o projeto Mulheres Notáveis, que se dedica a promover a autoestima e a autoafirmação da mulher.
Na Câmara Municipal, é presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher e vice-presidente da Comissão de Reparação. Ireuda criou a campanha carnavalesca ‘Meu corpo não é sua fantasia’, que visa alertar para o assédio sexual e a violência contra a mulher. Idealizou o SIMM Mulher, o Prêmio Mulher Notável, o programa Nova Fase (que reserva vagas de estágio a filhas de mulheres vítimas de violência), a Patrulha Guardiã Maria da Penha da Guarda Municipal e coordena o Prêmio Maria Felipa, principal homenagem destinada a mulheres negras.
“As mulheres negras enfrentam uma ‘dupla jornada’ na luta contra o racismo e a misoginia, pois têm que lidar com discriminações que atingem tanto a cor de sua pele quanto o fato de serem mulheres. O feminismo negro se depara com desafios únicos, como o combate às representações estereotipadas, a invisibilidade social e a dificuldade de acesso a políticas públicas específicas. O principal desafio é construir uma agenda que avance em políticas de inclusão e reparação histórica para essas mulheres”.
“Como presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher e vice-presidente da Comissão de Reparação da Câmara Municipal de Salvador, priorizo pautas que combatam a violência contra a mulher, em especial a mulher negra, e promovam a igualdade. Na área de reparação, damos atenção especial ao combate ao racismo estrutural e às políticas afirmativas. As duas comissões têm atuado para enfrentar desigualdades e assegurar direitos, especialmente no que diz respeito à proteção de mulheres e à justiça social. Temos a campanha ‘Meu corpo não é sua fantasia’, que todos os anos percorre os circuitos do carnaval alertando sobre a importunação e o assédio sexual, tanto na festa quanto no dia a dia. Para além da comissão, tivemos conquistas notáveis nos últimos anos. Por meio de projetos do meu mandato, hoje Salvador tem a Patrulha Guardiã Maria da Penha, um programa permanente na GCM para combater a violência doméstica. Temos o Simm Mulher, que desde 2020 já capacitou e encaminhou mais de 5 mil mulheres ao mercado de trabalho. Além disso, o governo federal está regulamentando a profissão de trancista, uma demanda da categoria que levamos ao ministro do Trabalho, no ano passado”.
“Esses conceitos são fundamentais na ocupação de espaços e no resgate da identidade negra, permitindo que a população negra seja protagonista de sua própria história. Afroturismo e afroempreendedorismo valorizam nossa cultura e contribuem para a autonomia econômica, enquanto o afrofuturismo projeta um futuro de oportunidades e inovação para a juventude negra. Essa apropriação de espaço fortalece a autoestima e abre novas possibilidades para o desenvolvimento social”.
“O racismo estrutural é um sistema que impregna instituições e relações sociais, gerando desigualdades que são normalizadas e perpetuadas ao longo do tempo. A luta antirracista exige, portanto, uma desconstrução contínua, que passa por políticas públicas, educação, ações afirmativas e a sensibilização da sociedade. Somente com essa compreensão coletiva será possível erradicar o racismo das bases da sociedade”.
“Temos visto avanços em políticas afirmativas e na conscientização da sociedade, especialmente no ambiente educacional. Hoje a quantidade de pessoas negras nas universidades e no mercado de trabalho é muito maior. Mas é preciso ampliar muito ainda. A promoção de políticas de empregabilidade para a população negra e o fortalecimento do atendimento especializado em saúde mental são necessidades emergenciais”.
“A presença de pessoas negras em espaços de poder é fundamental para alcançar a igualdade. Incentivar a participação política e empresarial, implementar políticas afirmativas e apoiar iniciativas de formação de lideranças são caminhos importantes. Além disso, é fundamental que partidos invistam mais em candidaturas negras, principalmente quando levantam tais bandeiras. E, claro, a sociedade precisa entender a importância de votar em negros e mulheres. São caminhos muito complexos, retroalimentados pelo racismo, mas que precisam de ações efetivas. É preciso sair do discurso e ir para a ação”.
“As ações afirmativas são conquistas fundamentais para reduzir desigualdades e garantir acesso a direitos historicamente negados à população negra. Casos como o da UFBA, em que uma médica negra teve sua posse suspensa, ressaltam a necessidade de proteção e aperfeiçoamento das políticas de cotas. Precisamos de mais mecanismos que garantam a efetividade das ações afirmativas e evitem interpretações judiciais que fragilizem essas conquistas. Se a lei existe, que seja seguida”.
“O racismo afeta profundamente a saúde mental e emocional da população negra, gerando sofrimento e desgaste psicológico. Lido com isso priorizando o autocuidado, fortalecendo minha rede de apoio aprofundando o autoconhecimento. Sei que sou humana como qualquer outra pessoa, mas tento não me deixar abater, não me permitir ser derrotada pelo racismo”.
“Neste Novembro Negro, minha mensagem é de luta e esperança. Que possamos seguir fortalecendo a consciência racial, lutando por equidade e honrando a história de nossos ancestrais. Nossa força está em nossa união, e cada conquista é um passo importante para um futuro mais igualitário e inclusivo”.
Fonte: Muita Informação